SCOTUS RESPONDE À OBJEÇÃO DE HENRIQUE DE GAND
DUNS SCOTUS RESPONDE À OBJEÇÃO DE HENRIQUE DE GAND: A 'UNIVOCATIO ENTIS' É FILOSOFICAMENTE NECESSÁRIA E TEOLOGICAMENTE DEFENSÁVEL
Yuri Fagundes
Duns Scotus responde à objeção de Henrique de Gand defendendo a univocidade do ser como uma posição filosoficamente necessária e teologicamente defensável, sem comprometer a diferença essencial entre Criador e criatura.
A seguir, explico os principais pontos de sua resposta:
1. Univocidade como base para o conhecimento e a linguagem sobre Deus
Scotus argumenta que, para que possamos conhecer e falar racionalmente sobre Deus, deve haver um conceito comum de “ser” aplicável tanto a Deus quanto às criaturas.
Caso contrário, não seria possível fazer qualquer afirmação verdadeira sobre Deus, uma vez que a linguagem usada para descrever as criaturas não teria relação significativa com a realidade divina.
A univocidade do ser, segundo ele, é necessária para assegurar uma base comum mínima entre Criador e criatura.
Isso não implica que Deus e as criaturas estejam no mesmo nível ontológico, mas que ambos compartilham um sentido fundamental de “ser”, ainda que diferindo infinitamente em modo e grau.
2. Univocidade não é igualdade ontológica
Scotus distingue entre o conceito de ser e a realidade do ser.
Ele reconhece que Deus é o ser infinito, subsistente por si mesmo (ens infinitum), enquanto as criaturas são seres finitos e contingentes.
Assim, a univocidade refere-se apenas ao conceito abstrato de ser, que é neutro e comum, mas não elimina as diferenças qualitativas e reais entre Criador e criatura.
3. Resposta à crítica da transcendência divina
Henrique de Gand temia que a univocidade comprometeria a transcendência divina, mas Scotus rejeita essa preocupação.
Para ele, a univocidade permite justamente distinguir entre Deus e as criaturas de forma mais clara:
• Deus é o ser necessário, infinito e absolutamente perfeito.
• As criaturas são seres dependentes, finitos e contingentes.
A diferença primaz permanece, pois a univocidade apenas estabelece um ponto de partida comum para a análise filosófica, sem diminuir a superioridade de Deus.
4. A relação com a analogia
Scotus também critica o uso exclusivo da analogia (como defendido por Henrique e Tomás de Aquino) por ser epistemologicamente insuficiente.
Ele afirma que, se o conceito de ser fosse meramente análogo, a comunicação entre Criador e criatura seria vaga e imprecisa, dificultando qualquer discurso claro sobre Deus.
Scotus não rejeita totalmente a analogia, mas a vê como uma aplicação posterior à univocidade.
Primeiro, é necessário um conceito unívoco de ser para estabelecer que Deus é e que Ele é ser; somente depois podemos explorar as diferenças por meio da analogia.
5. A glória divina preservada
Por fim, Scotus defende que a univocidade, longe de diminuir a glória de Deus, a exalta, pois permite compreender racionalmente como Deus é o fundamento do ser de tudo que existe.
Isso não implica que Deus seja apenas “mais um” ser entre outros, mas que Ele é o ser por excelência, cuja essência e existência são idênticas.
Conclusão
Duns Scotus responde à objeção de Henrique de Gand mostrando que a univocidade do ser é uma ferramenta intelectual indispensável para pensar a diferença e a relação entre Criador e criatura.
Ao aplicar um conceito unívoco de ser, ele não nega a transcendência divina, mas a fundamenta, assegurando que o discurso racional sobre Deus é possível sem comprometer a distinção primaz entre o infinito e o finito.
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