SCOTUS: ADEQUAÇÃO POR VIRTUALIDADE E COMUNIDADE
Yuri Fagundes
A distinção entre adequação por virtualidade e adequação por comunidade, segundo a filosofia de João Duns Scotus (1266-1308), está relacionada à maneira como um conceito universal ou uma ideia comum pode ser apropriada a diferentes sujeitos, mantendo sua unidade enquanto é aplicada à diversidade.
Adequação por Virtualidade
A adequação por virtualidade ocorre quando um conceito ou uma ideia possui em si a capacidade de englobar ou se aplicar a múltiplas realidades porque tem a virtus (força, potência) para incluir aspectos distintos.
Nesse caso, o universal está de forma implícita nas suas manifestações particulares.
Por exemplo:
• O conceito de “animal” inclui virtualmente tanto “homem” quanto “cavalo”. Ainda que o conceito de “animal” não seja idêntico ao de “homem” ou “cavalo”, ele contém uma potência que pode se desdobrar nesses casos particulares.
Aqui, o universal tem uma relação de potência com os particulares: ele pode ser especificado sem perder sua identidade universal.
Adequação por Comunidade
A adequação por comunidade ocorre quando um conceito ou uma ideia se aplica igualmente a diferentes sujeitos sem implicar virtualmente todas as suas características específicas, mas por uma característica comum a todos.
O universal, nesse caso, não precisa conter em si a potência para desdobrar-se em suas especificidades; ele é simplesmente compartilhado por diferentes realidades.
Por exemplo:
• O conceito de “ser” é comum a todos os entes (homem, cavalo, pedra, etc.) de forma indiferenciada, sem que “ser” contenha em si as características específicas de cada ente.
Aqui, o universal tem uma relação de simplicidade ou igualdade com os particulares: ele é aplicado a todos de maneira idêntica, sem divisão ou modificação.
Diferença Essencial
A diferença fundamental entre os dois conceitos é que:
1. Adequação por virtualidade implica uma relação de potência ou capacidade do universal para se desdobrar em diferentes particulares. Ela é mais dinâmica.
2. Adequação por comunidade refere-se a uma relação de partilha ou posse comum de um universal, sem implicar que ele contém em si as diferenças específicas dos particulares. Ela é mais estática e uniforme.
Esses conceitos mostram como Scotus aborda a relação entre o universal e o particular, equilibrando a unidade dos universais com a multiplicidade dos indivíduos, sem reduzir um ao outro.
Essa abordagem também está conectada à sua teoria da univocidade do ser e ao esforço para resolver problemas de individuação.
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