O QUE É A COMUNHÃO DOS SANTOS? - terceira parte

Comunhão Dos Santos. 

Segundo o Vocabulário Teológico Ortodoxo - Folheto Missionário número P112 Copyright © 2001Holy Trinity Orthodox Mission 466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011 Redator: Bispo Alexandre Mileant

Nós falamos noutra parte dos santos* e da santidade. Queremos, abordar agora o que se chama, bastante misteriosamente parece, a comunhão dos santos, e para tal, tentemos compreender o que é a comunhão nesse contexto, examinando três aspectos dessa palavra: 

1. Comunhão entre todos os fiéis Lembremo-nos antes de tudo que se o único santo é Deus, somos todos chamados a participar desta santidade, pois, segundo São Paulo “amados de Deus, chamados santos” (Rom. 1,7). Na Igreja dos primeiros tempos, chamava-se “santos” todos os que seguiam o Cristo (Ver Cristão*) e muitos Padres da Igreja usam a palavra “santo” para designar os que, hoje em dia, chamamos de “fiéis.” Não existe aí nem confusão nem equívoco. Com efeito, juntos formamos um só corpo, a Igreja, onde o chefe é o Cristo, e é juntos que seremos salvos, portanto santificados pela graça do Espírito Santo. E nós — que somente somos santos por “vocação” “pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas” (Heb. 12:1) que, são os santos acabados, prontos, que venceram, vivem e viverão do princípio ao fim do mundo, e que intercedem por nós e nos mostram o caminho. Nossa aceitação, mesmo implícita e fraca das exigências concretas dos Evangelhos, nossa participação na Igreja Santa e nos seus sacramentos, significa que podemos esperar por nosso passo no rastro dos santos, mesmo muito atrasados. Esta é, nossa “vocação,” e nossa comunhão uns com os outros e com os santos. A santidade não é pois conhecida como o apanágio de alguns. Todo cristão, por seu batismo, sua crisma, os santos mistérios, participa da santidade da Igreja. O homem inteiro corpo e alma torna-se receptáculo do Espírito Santo. 


2. Comunhão dos fiéis com os santos. Entretanto, alguns dos que chamamos santos, representam "o ser humano purificado… onde a transparência restaurada deixa ver seu modelo de bondade, sem limite, de poder e de sensibilidade infinitas: o Deus Encarnado. O santo é aquele que conseguiu a maior semelhança com o Cristo que, mesmo estando no céu, está ao mesmo tempo conosco… Ele é uma pessoa ligada num diálogo totalmente aberto e incessante com Deus e com os homens" (Dumitru Staniloae: Oração de Jesus e experiência do Espírito Santo — Prière de Jesus et expérience du Saint — Esprit, Paris, Declée de Brouwer, 1981, pg. 32-33). Comunhão constante, pois, entre os Santos e nós mesmos. 


3. Comunhão dos Santos com os fiéis, entre eles e com Deus. O domingo que segue o Pentecostes é consagrado na Igreja Ortodoxa à memória de todos os santos. Isto não é uma coincidência, pois a santidade provém da descida do Espírito Santo sobre a pessoa humana. No Santo, o milagre do Pentecostes se realiza de novo. Um texto litúrgico recapitula o sentido de tal festa: Celebramos aqueles que se inclinaram diante de Deus desde a origem dos séculos — a honra dos Padres, os Sábios, os Patriarcas, a assembléia dos Profetas, a beleza dos Apóstolos, a comunhão dos Mártires, a glória dos Ascetas, a memória de todos os Santos. Pois eles não cessam de interceder para que seja dado ao mundo a paz e às nossas almas o grande amor. A palavra-chave aqui é “interceder” pois é ela que nos faz compreender que se trata de comunhão. Só se pode interceder junto d’Aquele com quem se está em comunhão, e por aqueles com os quais se está em comunhão. Ou, os santos, testemunhas do Cristo ressuscitado e da presença do Espírito Santo no mundo, estão em comunhão com Deus, com os homens e entre eles. Esta comunhão santa, à imagem da que existe entre as três pessoas da Trindade Santa e que reflete a Santa Igreja, é o que podemos chamar a comunhão dos santos, é um aspecto da “catolicidade” (veja Católica) da Igreja. São Simeão o Novo Teólogo lhe dá o nome de “corrente de ouro.” "(…) ou, santos, iluminados pelos anjos de Deus, ligados e reunidos pelo elo do Espírito, tornam-se pares e êmulos dos anjos, vindo atrás daqueles que os precederam, os santos, que de geração em geração vêem pela prática dos mandamentos de Deus se juntar aos precedentes, recebem como eles a lua na participação da graça de Deus; eles tornam-se como uma corrente de ouro, cada um deles sendo um elo ligado ao precedente pela fé, pela caridade e pelas obras até formar em Deus uma corrente que não se pode romper facilmente." (Capítulos teológicos, gnósticos e práticas — Chapitres théologiques, Gnostiques et pratiques, Sources chrétiennes, nº 51, pg. 81). A descida do Espírito, o dia de Pentecostes, é o nascimento da comunhão dos Santos. Ela é, para os fiéis, sentida como uma grande unidade. A Igreja celeste e a Igreja terrestre, a Igreja visível, e a Igreja invisível estão indissociavelmente ligadas. Esta comunhão dos santos é pois uma corrente de amor mútuo e de orações, onde todos os membros da Igreja, vivos, mortos e por nascer, têm seu lugar. Cada liturgia terrestre é uma participação na Liturgia que se celebra sem cessar no céu. A liturgia e o culto dos santos formam uma unidade e o lugar onde se realiza a descida do Espírito Santo é ao mesmo tempo o lugar onde se reúne a comunhão de toda a Igreja, de todos os santos. Não nos deixemos confundir com essa explicação um pouco árdua. Lembremo-nos somente que temos os Santos em sua comunhão — canonizados ou não — como intercessores junto a Deus, e que podemos lhes orar e lhes pedir para vir em nosso auxílio em qualquer circunstância; eles que, mesmo tendo deixado esta vida, estão mais vivos que nós. Ver também Santos.



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