A Participação do Homem na Sua Salvação
Não se pode afirmar que a Salvação, o Perdão dos pecados e a Santificação, realizados pela obra Salvífica de Cristo, não sejam aplicados ao homem senão exteriormente, mecânica ou magicamente. Não. Segundo a Doutrina Ortodoxa, é preciso que o próprio homem nela colabore que se aproprie ativamente do que Cristo cumpriu objetivamente, que ele penetre por si mesmo na nova vida que surgiu neste mundo com Cristo. É necessário seguir a prescrição de São Paulo: "Assim também operai a vossa salvação com temor e tremor" (Fl.2, 12).
Em que é que consiste essa ativa participação do Homem na sua Salvação?
A resposta da Igreja Ortodoxa não é outra senão a expressão do seu pensamento ascético da vida. "E desde os dias de João o Precursor (Batista) até agora, faz-se violência ao Reino dos Céus, e pela força se apoderam dele" (Mt 11, 12), disse Cristo. Por outras palavras: a participação ativa do homem na sua Salvação consiste em travar duros combates com as Paixões, com a natureza pecadora, em arrepender-se, em desligar-se dos poderes do mal; é a Purificação do pecado, a consolidação da vontade no bem, o cumprimento da Vontade de Deus, dos Mandamentos Divinos, o crescimento na vida da virtude, no Amor por Deus e pelo próximo, renunciando a si mesmo, oferecendo-se a si mesmo, para carregar a Cruz de Cristo. Tudo isto, naturalmente, requer, necessariamente, a proteção, o apoio da Graça Divina. A Salvação do homem é um processo Divino-Humano.
À questão: o que é que justifica o homem? a resposta de Católicos Romanos e de Cristãos Protestantes diverge, é discordante. Vejamos o que dizem os teólogos da Igreja Romana: o que justifica o homem são a Fé e as boas obras. Quanto aos Protestantes, sustentam que o que justifica o homem é somente a Fé e qualificam a prática Católico-Romana de desprezível santidade pelas obras. Portanto, a oposição jaz na maioria do tempo nas palavras, mais do que nas coisas. Tanto Católicos como Protestantes encontram-se no essencial com a Igreja Ortodoxa, quando Ela responde com o Apóstolo Paulo: "... mas sim a Fé que opera por Caridade" (Gl 5, 6).
Dia após dia, o Cristão Ortodoxo repete na sua Oração da manhã:
Ó meu Salvador! Liberta-me pela Tua graça;
pois se Tu quisesses que eu alcançasse a felicidade
pelas minhas obras,
isso não seria nem uma graça nem um dom,
antes uma obrigação...
Tu disseste: Quem crê em Mim viverá
e não verá jamais a morte.
Assim a fé em Ti salva os desesperados.
Vê: eu creio;
me salva então porque Tu és o meu Deus e o meu Criador.
Que agora, ó meu Deus,
a fé seja contada como obras:
não exijas as obras
que deveriam, por si, justificar-me:
é esta minha fé que deve ser suficiente
para tudo, responder por mim,
tornando-me participante na Tua glória eterna...”.
Em todas as Orações, em todos os escritos dos Santos Padres e Doutores, a Igreja Ortodoxa confessa que o homem pecador é indigno do Amor, da Misericórdia e da Graça de Deus, merecendo unicamente ser rejeitado e punido.
"Eu choro e lamento-me amargamente,
ao ver a terrível retribuição da palavra;
pelas minhas obras
eu não possuo nenhuma justificação
e tenho bem poucas obras
por causa dos meus pecados,
ó infeliz que eu sou!
Também Te imploro...
envia-me o perdão dos pecados, ó Cristo, ó Deus,
e uma grande graça!"
(Domingo, oficio da noite, 5).
Será somente salvo aquele que, em Cristo, for uma "nova criatura". Ora esse só será uma "nova criatura" quando abandone, rejeite "a conduta anterior do velho homem arrastado, perdido pela cobiça enganadora", aquele que se renova no "sentimento (de foro íntimo) espiritual", e reveste o "homem novo, criado por Deus na justiça e santidade verdadeiras" (Ef 4, 22-24). Ora, para isto também, a Graça de Deus é necessária. É por esta razão que a Igreja Ortodoxa ora nestes termos no Ritual funerário:
"Ó Salvador, pela Tua misericórdia,
salva das transgressões o Teu servo
que agora arrebataste na fé,
pois, ó Tu que amas os homens,
pelas obras humanas ninguém é justificado”.
(Ritual do Funerário dos Presbíteros)
É somente pelo Espírito Santo que, "toda a alma é vivificada, elevada ao receber a purificação e iluminada pela Trindade no Santo Mistério" (Domingo, Ofício da Manhã).
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