A Prática da Presença de Deus - parte 1
Do livro
A Prática da Presença de Deus
Por Irmão Lourenço (Nicholas Herman)
Prefácio
Há mais de 300 anos, em um convento na França, um homem descobriu o segredo para viver uma vida de alegria. Com a idade de dezoito anos, Nicholas Herman vislumbrou o poder e a providência Divina através de uma simples lição que recebeu da natureza. Ele passou os dezoito anos seguintes, no exército e no serviço público. Finalmente, enfrentando uma "perturbação no espírito" que freqüentemente ocorre na meia idade, entrou para um mosteiro, onde se tornou o cozinheiro e o fabricante de sandálias para sua comunidade. Porém, o mais importante, ali começou uma viagem de 30 anos que o levou a descobrir um modo simples de viver alegremente. Nos momentos difíceis como os atuais, Nicholas Herman, conhecido como o Irmão Lourenço, descobriu e aplicou
uma maneira pura e simples de andar constantemente na presença de Deus. O Irmão Lourenço era um homem gentil e de espírito alegre, evitava ser o centro das atenções, sabendo que os entretenimentos externos "estragam tudo". Logo após a sua morte foram reunidas algumas das suas cartas. Frei José de Beaufort, representante local da arquidiocese, juntou estas cartas com as memórias de quatro conversas que teve com o Irmão Lourenço, e publicou um pequeno livro intitulado “A Prática da Presença de Deus”. Neste livro, Irmão Lourenço diz, simples e maravilhosamente, a forma de caminhar continuamente com Deus, com uma atitude que não nasce da cabeça, mas a partir do coração. Irmão Lourenço legou-nos um modo de vida que está disponível para todos os que buscam conhecer a paz e a presença de Deus, de modo que qualquer pessoa, independentemente da idade ou das circunstâncias que atravessem, possam
praticarem em qualquer lugar e a qualquer momento. Uma das coisas agradáveis com
relação à prática da Presença de Deus, é que este é um método completo. Em quatro
conversas e quinze cartas, muitas das quais foram escritas para uma freira amiga do
Irmão Lourenço, encontramos uma maneira direta de viver na presença de Deus, que hoje, trezentos anos depois, continua sendo prática.
I Conversação
Vi o Irmão Lourenço pela primeira vez em 3 de agosto de 1666. Ele me disse que Deus
tinha-lhe feito um favor singular quando se converteu na idade de dezoito anos. Durante o inverno, vendo uma árvore despojada de sua folhagem, e considerando que em breve voltariam a brotar as suas folhas e depois apareceriam às flores e os frutos, Irmão Lourenço recebeu uma visão da Providência e do Poder de Deus que nunca se apagou de sua alma. Esta visão o liberou totalmente do mundo, e incendiou nele um grande amor por Deus. Tão grande era esse amor que ele não podia dizer que tinha aumentado nos quarenta anos que se passaram. Irmão Lourenço disse que ele tinha servido a M. Fieubert, o tesoureiro, porém com tanta torpeza que quebrava tudo. Desejava ser recebido em um mosteiro pensando que ali poderia mudar a sua torpeza e as faltas que havia cometido por uma vida mais desperta. Ali ofereceria a vida e seus prazeres como um sacrifício a Deus, porém Deus o havia decepcionado, pois a única coisa que tinha encontrado naquele estado era a satisfação. Devemos reafirmar a nossa vida na realidade da Presença de Deus, conversando continuamente com Ele. Seria vergonhoso
deixar de falar com Ele para falar e pensar em insignificâncias e em bobagens. Devemos alimentar e nutrir as nossas almas, enchendo-as com pensamentos enaltecidos sobre Deus, e isso nos enchera de grande alegria por estarmos dedicados a Ele. Devemos acrescentar e dar vida à nossa fé. É lamentável que tenhamos tão pouca fé. Em vez de permitir que a fé governe sua conduta, os homens se entretêm com devoções triviais, que vão mudando diariamente. Irmão Lourenço disse que o caminho da fé é o espírito da Igreja, e isso é suficiente para levar a um elevado grau de perfeição. E que devemos nos entregar a Deus tanto nas coisas temporais como nas espirituais, e procurar a nossa
satisfação apenas no cumprimento de sua vontade, quer seja que Ele nos conduza
através do sofrimento ou através da consolação. Tudo deveria ser igual para uma alma verdadeiramente entregue a Ele. Disse que precisamos de fidelidade nos momentos de aridez espiritual, insensibilidade e tédio, coisas por meio das quais Deus testa o nosso amor por Ele; esses momentos são propícios para que façamos bons e eficazes atos de entrega, atos que devem ser repetidos com freqüência para facilitar o nosso progresso espiritual. Dizia ainda que embora ouvisse diariamente sobre as misérias e os pecados
que estão no mundo, estava longe de se surpreender, pelo contrário, ficava surpreso que não houvesse mais maldade, considerando-se os males que eram capazes os pecadores.
Ele, entretanto, orava por eles. Mas sabendo que Deus poderia remediar os estragos que
fizeram quando Lhe aprouvesse, ele não se deixava vencer por preocupações como
estas. Irmão Lourenço dizia que para chegar à entrega que Deus requer, temos de vigiar atentamente todas as paixões que se misturam tanto com as coisas espirituais como com aquelas de natureza mais bruta. Se desejamos verdadeiramente servir a Deus, Ele nos dará luz com relação a essas paixões. No final dessa primeira conversa, Irmão Lourenço me disse que se o objetivo da minha visita fosse discutir sinceramente sobre uma forma de servir a Deus, que poderia ir vê-lo quantas vezes quisesse, sem medo de ser inoportuno. Porém se não era esse o caso, então não deveria visitá-lo mais.
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