O QUE MERECEMOS?


O que é direito escolhamos para nós; e conheçamos entre nós o que é bom.
Jó 34:4

Considerado pela maioria dos estudiosos como o livro mais antigo da bíblia o livro de Jó muitas vezes é evitado pelos cristãos. Acredito que deveria ser o primeiro livro do velho testamento lido pelos cristãos depois do novo testamento. Pois nele se encontra a perspectiva de Deus, a visão que Deus tem de nós, cegos, vaidosos, arrogantes, crendo-se bons e justos, mesmo tendo Jesus recusado a ser chamado de bom.

O livro de Jó também é um livro de maturidade. Então se ele exigem maturidade deveríamos lê-lo segundo a ordem que está na bíblia, dirão uns; mas se ele trás maturidade deveria ser lido primeiro depois de ler o novo testamento dirão outros, e não só por ser o mais antigo na ordem cronológica. Independente de qualquer posição Jó é um livro de maturidade da sabedoria. Vejo nele Eliú como um tipo de Cristo e Jó como um tipo da igreja. Essa tipificação é uma interpretação justa, pois é assim que Deus fala conosco. Jesus dá exemplos disso, Paulo Paulo chega até a enunciar como se deve interpretar, também dando um exemplo:

Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre.
Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa.
O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar.
Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos.
Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é mãe de todos nós.
Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não estás de parto; Porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido.
Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa como Isaque.
Mas, como então aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo o Espírito, assim é também agora.
Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre.
De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre.
Gálatas 4:22-31

Fica claro aqui a maneira como Paulo estabelece sua interpretação. Assim também podemos apontar os conselhos dos amigos de Jó, o próprio Jó e o conselho de Eliú como tipos para hoje. Vou ainda um pouco mais longe nessa analogia e que o Espírito que está nos irmãos julgue se isso provém de Deus ou se é inútil: podemos ver os conselhos dos três amigos de Jó como as opiniões que vêm das influências que podem estar sobre nós e sobre a igreja, a influência do mundo, das ideias mundanas; a influência de nossas próprias idéias, de nossas próprias razões condicionadas e a influência do maligno, que tenta Jó ao ponto desse começar a se defender e a gloriar-se a si mesmo e se justificar diante de Deus. Essa influência diabólica costuma ser vista apenas quando sua mulher diz diretamente que Jó amaldiçoe a Deus e morra, mas sabemos que o demônio também haje sutilmente, apresentando justificativas razoáveis ou provocando e humilhando injustamente para que a pessoa se justifique, e termine até se gloriando ou blasfemando contra Deus, acusando Deus,  dizendo que Deus é injusto ou mesmo mau. Quem já leu o livro de Jó sabe o quanto Jó tenta se justificar e o que ele chega a dizer diante da interpretação dos acontecimentos dadas por esses amigos.

Mas Eliú, o mais jovem, espera até que se esgotem suas falas em sua falta de sabedoria e os vai repreender e a Jó, e o que Eliú fala sabemos que provém de Deus, não de opiniões e julgamentos humanos e até diabólicos como fizeram os outros. Ele diz "O que é direito escolhamos para nós; e conheçamos entre nós o que é bom." Escolhamos a interpretação direita, justa, e conheçamos o que é bom. Jó estava interpretando, e seus amigos estavam interpretando, todo o seu sofrimento e todo o acontecido de maneira parcial, incompleta, afetada, e, portanto, injusta. E é preciso olharmos para tudo e interpretarmos da maneira correta, não atribuindo arbitrariamente a Deus ou outras causas tudo o que acontece, embora tudo seja sabido por Deus e inevitavelmente cumprirá seus desígnios. Mas a questão aqui é o que é justo e bom e se nós podemos ser justos e bons perante Deus.

Porque Jó disse: Sou justo, e Deus tirou o meu direito.
Apesar do meu direito sou considerado mentiroso; a minha ferida é incurável, embora eu esteja sem transgressão.
Que homem há como Jó, que bebe a zombaria como água?
E caminha em companhia dos que praticam a iniqüidade, e anda com homens ímpios?
Porque disse: De nada aproveita ao homem o comprazer-se em Deus.
Portanto vós, homens de entendimento, escutai-me: Longe de Deus esteja o praticar a maldade e do Todo-Poderoso o cometer a perversidade!
Jó 34:5-10

Só Deus é bom, disse Jesus. Aqui Eliú aponta os ditos de Jó, que procura seus direitos. E não existem muitos cristãos hoje na mesma situação? Não estamos alguma vez nos achando cristãos no direito de ter as bênçãos de Deus? Não estamos por vezes nos comparando aos pecadores, aos do mundo e com isso não estamos nos ensoberbando? Nos arrependamos e peçamos perdão a Deus, pois nenhum de nós é digno ao menos de se comparar a Jó em sua justiça, mesmo antes que Satanás fosse liberado para tentá-lo.

Eliú mostra a conclusão equivocada a qual Jó é levado a pronunciar depois de ouvir (e ser provocado por) seus amigos: "De nada aproveita ao homem o comprazer-se em Deus." No meio de tantas justificativas de Jó isso talvez passe desapercebido, pois temos que reconhecer que comparado às outras pessoas Jó realmente era um homem justo e bom. Mas Deus não gosta da soberba, da arrogância, do orgulho, da vaidade e Eliú, como porta voz de Deus para nós vai colocar Jó no seu lugar, "Portanto vós, homens de entendimento, escutai-me: Longe de Deus esteja o praticar a maldade e do Todo-Poderoso o cometer a perversidade!"

Porque, segundo a obra do homem, ele lhe paga; e faz a cada um segundo o seu caminho.
Jó 34:11

Quantos não se dizem provados por Deus e até que estão sendo castigados por Deus? Lembremo-nos então de Jó, pois creio que nenhum de nós suportaria o que ele suportou, eu não suportaria, somos fracos pecadores, merecedores da perdição. Que seria de nós se não fosse a bondade e a misericórdia de Deus?! Deus tenha piedade e misericórdia de nós.

É pela graça de Deus que somos salvos e nos tornamos cristão, não por nosso merecimento. É pela misericórdia de Deus que existimos, pois se Deus aplicasse somente a justiça Adão e Eva morreriam ali mesmo e ninguém teria nascido deles, mas Deus já sabia de tudo e já tinha um plano para cada um de nós, portanto eles viveram mais de cem anos e tiveram filhos e viram gerações e gerações suas e então morreram. Como ainda podemos ser vaidosos em nosso cristianismo? Que direito temos de sermos arrogantes? Graças ao bom Deus que não escuta nossas vaidades!

Por causa das muitas opressões os homens clamam por causa do braço dos grandes.
Porém ninguém diz: Onde está Deus que me criou, que dá salmos durante a noite;
Que nos ensina mais do que aos animais da terra e nos faz mais sábios do que as aves dos céus?
Clamam, porém ele não responde, por causa da arrogância dos maus.
Certo é que Deus não ouvirá a vaidade, nem atentará para ela o Todo-Poderoso.
E quanto ao que disseste, que o não verás, juízo há perante ele; por isso espera nele.
Mas agora, porque a sua ira ainda não se exerce, nem grandemente considera a arrogância,
Logo Jó em vão abre a sua boca, e sem ciência multiplica palavras.
Jó 35:9-16

Deus nos mostra que nos deu mais do que aos animais, e, embora hoje não mereçamos, ainda temos arrogância. Então queremos clamar e rapidamente ser atendidos sendo ainda arrogantes e maus? "Deus não ouvirá a vaidade, nem atentará para ela o Todo-poderoso". Até porque se atentasse talvez nos daria o que merecemos em nossa vaidade e arrogância. Deus não vai atender por que? Eliú diz que Deus não ouvirá a vaidade.

E disse mais, "juízo há perante ele; por isso espera nele." Só nele podemos esperar, não há esperança em nós. Depois de tudo que aconteceu com Jó Eliú mostra que "a sua ira ainda não se exerce, nem grandemente considera a arrogância, logo Jó em vão abre a sua boca, e sem ciência multiplica palavras." Se a ira de Deus estivesse sendo exercida e não sua misericórdia ai de nós! Nós não podemos comprar Deus com nossas boas ações, louvores, cultos, etc.. Antes seríamos ingratos se não fizéssemos essas coisas, seríamos ingratos em não reconhecer como Deus tem sido bom e misericordioso diante do que somos. Quando o cristão obedece, louva, ora, agradece, vigia, ajuda, cultua, prega, etc., não está fazendo mais que a obrigação.

Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer.
Lucas 17:10

É isso que Eliu está mostrando a Jó.

Tens por direito dizeres: Maior é a minha justiça do que a de Deus?
Porque disseste: De que me serviria? Que proveito tiraria mais do que do meu pecado?
Jó 35:2,3

Temamos a justiça de Deus enquanto sua misericórdia e bondade está sobre nós, sejamos dependentes disso, pois não existe outro meio, por obras, sem a graça de Deus, já sabemos, não nos salvaremos. Porque, que bem podemos fazer a Deus? Que retribuição podemos dar em troca de qualquer coisa que venha de Deus?  Eliú continua e responde a pergunta de Jó:

Eu te darei resposta, a ti e aos teus amigos contigo.
Atenta para os céus, e vê; e contempla as mais altas nuvens, que são mais altas do que tu.
Se pecares, que efetuarás contra ele? Se as tuas transgressões se multiplicarem, que lhe farás?
Se fores justo, que lhe darás, ou que receberá ele da tua mão?
A tua impiedade faria mal a outro tal como tu; e a tua justiça aproveitaria ao filho do homem.
Jó 35:4-8

"Que receberá ele da tua mão?" Assim nos pergunta Eliú, que figura aqui como a palavra de Deus, como um tipo de Cristo. O mal que fazemos, a nós e a outros fazemos, o bem que fazemos, do mesmo modo. Não é a Deus que fazemos. Só nos resta crer, que é a nossa obra, só nos resta confiar, obedecer. O que fazemos não pode afetar a Deus, mas a nós e aos outros. Até por graça Deus não ouve nossa arrogância, vaidade, orgulho, soberba, pois a soberba desagrada a Deus. Como poderíamos ser assim sabendo que existe Deus?!

Nenhum de nós talvez fosse igual a Jó em justiça e em misericórdia para com os outros. Talvez todos e cada um de nós merecêssemos algo pior do que o aconteceu a Jó. Mas louvado seja Deus que nos mantem e nos sustenta por sua misericórdia. Graças a bondade e misericórdia de Deus ainda estamos vivos e a grande maioria bem de saúde, não por nosso merecimento ou obras ou forças, mas pela mão de Deus. Pela bondade e misericórdia estamos salvos, somos amados e cuidados. Senhor, obrigado! Livra-nos de todos os males, nosso Pai. E perdoa nossos pecados, nossa ousadia, arrogância, vaidade, desobediência, falta de atenção, negligência, perdoa-nos Pai, em nome do Senhor Jesus. Amém.

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