O PAPEL DA FÉ - segunda parte

O inevitabilidade da fé atinge seu máximo com a tecnologia
Quando se fala de fé hoje em dia pelo menos metade das pessoas nos questionarão seguramente de três maneiras, ou de pelo menos uma ou duas das seguintes: (1) nos pedirão explicações, porque precisam entender como funciona o que estamos dizendo; ou (2) nos questionarão os motivos, muitos precisam de um porque, para que, uma motivação, ou um motivo pelo qual estamos falando disso, ou o que é pior, o que estamos ganhando com isso ou o que estamos ganhando por falar disso; ou, a mais comum, (3) nos pedirão provas, dirão que não acreditam em coisa alguma que não possa ser provada ou evidenciada (sem saber do auto engano que estão demonstrando), querem pelo menos uma demonstração. 
É interessante como toda essa armadura desaba diante da tecnologia. Em questões tecnológicas ela nem existe. Não existem essas dúvidas quando se trata de muitas outras coisas em nossa vida. Mas o exemplo que pretendo usar aqui é a tecnologia: não existem essas perguntas quando se trata de tecnologia. Já percebeu?
 Ninguém precisa entender como funciona o celular, o computador, a moto, a TV, a instalação elétrica da lâmpada, para usá-los, e usamos, não duvidamos. São tantos e inúmeros exemplos que vou usar qualquer um que me vier à mente. Se alguém nos der um telefonema, nós não vamos dizer "prove que é você mesmo que está falando". Dificilmente faríamos tal, mesmo que nunca tivéssemos recebido um telefonema na vida. Todos vivem sua vida, seus costumes e rotinas por pura fé.
Cremos que os passos nos levarão, que o ventilador não soltará suas hélices, que o telhado é seguro. Fé é o natural, não descrer, não ser cético, não desconfiar de tudo. Nenhuma criança que nunca viu água fica alarmada quando recebe água a primeira vez, confiar na água, confiar na mãe, está no seu instinto. Ninguém entra num shopping duvidando que aqueles vendedores vão vender, nem que as lojas terão o produto, muitos vezes. E nos deparamos com a decepção muitas vezes. Algumas vezes compramos aparelhos sem testar, apesar do costume dos testes e da obrigação das lojas, nós então confiamos sem qualquer razão para isso. Mas até aqui podemos dizer que temos fé que depende de algum costume ou conhecimento.
Por isso temos que ver que certas desconfianças e dúvidas que surgem diante das coisas também têm a ver com aprendizados e que existe hoje uma cultura da dúvida, outras são instintivas e isto é inegável. Mas por outro lado e até bastante arbitrariamente também escolhemos depositar nossa fé em uma série de coisas, o tempo todo, seja instintivamente ou condicionadamente, seja essa confiança inata ou aprendida ou uma combinação de ambas. 
O ser humano sente desconfiança ao entrar numa floresta, ou num shopping, ou num hospital, ou num deserto? Veja que depende muito, de muitos fatores, mas não é disso que estamos tratando e sim sobre confiar sem questionar os porquês ou razões, nem os benefícios, nem exigir provas, nem entender como funciona. Então não interessa em todo esse argumento que hoje existe contra a fé qual a origem ou naturalidade da fé, nem qual a razão. Não questionamos sequer a existência das coisas como pensamos que são, então apenas devemos averiguar e concordar que a fé existe dessa maneira e sempre estamos fazendo uso da fé diariamente, e a todo momento temos que confiar em algo e em nossas próprias previsões ainda que não hajam tantas garantias se olharmos bem.
O melhor exemplo, para não me estender, é o celular. Quantas coisas fazemos num celular! Apenas movemos os dedos e os olhos e esperamos com plena certeza tudo o que esperamos dele, que todos aqueles comando sejam atendidos. Como no exemplo do carro, que é outro exemplo tecnológico, aquilo que é um autômato termina nos condicionando e nós automaticamente faremos todos os movimentos aprendidos necessários para obter o que desejamos dele. Nós confiamos plenamente nisso sem questionar. Tanto que quando isso não acontece há decepção, nos zangamos, nos sentimos lesados, supomos que uma pessoa ou pessoas que nunca vimos nos enganaram ou que fizeram um produto ruim ou que tal marca é ruim. São centenas, milhares de deduções que fazemos no dia a dia, sem qualquer garantia, prova, compreensão ou visão disso, por pura fé. 
Dificilmente alguém vai comprar um computador e pensar "deixe eu entender como funciona primeiro, aí então começarei a usar". A mesma coisa o médico, o remédio, o elevador, o agricultor que produz o que nos mantem vivo, nós geralmente não questionamos muito sua eficácia ou como as coisas funcionam, como são produzidas, o que nos interessa é o efeito, o uso. Ninguém entende quase nada do que usa, nem tem certeza de fato do seu funcionamento, provas, previsões. Fé é da nossa natureza. Mas essa é uma fé instintiva. Às vezes ela depende de um conhecimento. Vejamos.

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