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O QUE É A COMUNHÃO DOS SANTOS - 5



A Igreja e a Vida Espiritual

Só a fragmentação infinita do gênero humano é acessível à nossa vista: nós vemos cada indivíduo levar uma vida egoísta e isolada; os filhos do mesmo Adão, sendo seres sociais, dependendo dos seus irmãos, não vêem a sua unidade, não estão conscientes dela, mas esta unidade manifesta-se no amor e pelo amor e existe graças à participação na vida divina e única da Igreja. "Amemo-nos uns aos outros, a fim de que num mesmo espírito confessemos o Pai e o Filho e o Espírito Santo, Trindade consubstancia e individual," proclama a Igreja na liturgia. 

Esta unidade da Igreja revela-se aos olhos do amor não como uma união exterior do gênero das que encontramos em toda a sociedade humana - mas como o princípio primeiro e misterioso da vida. A humanidade é vida, em Cristo, os homens os bagos de uva de uma mesma vinha, os membros de um mesmo corpo. A vida de cada homem alarga-se infinitamente para se tornar a vida dos outros, comunhão dos santos, e cada homem na Igreja vive da vida de toda a humanidade tornada Igreja; cada homem é humanidade: homo sum et nihil humanum a me alienum esse puto (Serge Bulgakoff: L'Ortodoxie. Paris, 1932, p. 6-7).

Este texto do padre Bulgakoff sublinha-o: Onde o homem descobre a invasão do Inefável, passa-se um acontecimento que tem um alcance ao mesmo tempo psicológico e social: a constituição da Igreja, comunidade daqueles que estão disponíveis para a razão de ser última da vida. Por esta razão, juntos, eles sentem-se impelidos a viver cada vez mais intensamente, em si mesmos e através das suas relações com os outros, da presença de Deus. A Igreja é, pois, a comunidade daqueles que, na oração e no amor, descobrem sempre melhor o Inefável, portanto a eles mesmos e aos outros e imprimem na sua vida as consequências éticas de alcance psicológico e social de uma descoberta sempre renovada e chamada a aprofundar-se ainda mais. A interiorização da fé pela oração e a sua exteriorização pelo amor vivido no quotidiano e no social de longo alcance são um só e o mesmo movimento, e qualquer distinção compromete a realidade da "Igreja." "A relação vertical com Deus numa fé viva realiza-se na sua manifestação horizontal com os outros, na comunhão do Espírito Santo, que não pode ser separada da realidade visível da Igreja, aqui e agora" (N. A. Nissiotis: L'Église et Ia Société dans Ia Théologie orthodoxe grecque, in L'Éthique sociale chrétienne dans un Monde en transformation. Église et Société, Genebra, 1966, p. 64). É somente na vida comunitária de uma comum participação em Deus, vida comunitária mais profunda ainda do que o casamento, que, como se viu, é um sinal, que o indivíduo se torna verdadeiramente numa pessoa, e que pode, por esta razão, ir ao mais profundo da sua própria identidade na oração e na meditação. "Na tradição oriental, observa Nissiotis, teólogo grego contemporâneo, a pessoa deve ser compreendida... como "ser pessoal," definido somente pela sua relação com os outros membros da comunidade eclesial. Ser pessoal significa que a sua individualidade não brota senão do movimento recíproco do amor que conduz à interdependência em Cristo dos homens reunidos pelo Espírito Santo" (Ibid).


MATÉRIA COMPLETA EM

https://www.fatheralexander.org/booklets/portuguese/igreja_ortodoxa_3.htm


quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Chê, o Porco Assassino 4

 

Rodrigo Constantino

Foto de perfil de Rodrigo Constantino

O porco assassino Che Guevara é símbolo do amor para o History Channel do Brasil

  • PorRodrigo Constantino
  • 18/06/2015 09:15
O porco assassino Che Guevara é símbolo do amor para o History Channel do Brasil

“Em um dia como este de 1928 nascia, na província argentina de Santa Fé, Che Guevara, um dos idealizadores e comandantes que lideraram a Revolução Cubana”. Assim começa a divulgação do programa especial no dia 14 de junho do History Channel Brasil, supostamente um canal voltado para ensinar história aos telespectadores. Dessa forma, vão “aprender” a mesma história que “aprendem” com a maioria de nossos “professores” (militantes marxistas disfarçados): uma total inversão dos fatos!

(...)

Amor? O “amor” que Che sentia era pelo odor de pólvora, que lhe dava, na verdade, tesão. O “amor” de Che era puxar o gatilho contra inocentes, incluindo adolescentes ou mulheres grávidas, cujo único “crime” fora não aplaudir sua revolução “amorosa”. Outras pessoas foram guiadas por “grandes sentimentos de amor” como Che. São elas: Stalin, Lenin, Hitler, Pol-Pot, Mao Tse-tung, Kim Jong-il, Fidel Castro, etc. Tamanho sentimento de “amor” deixou apenas um rastro de sangue, escravidão e miséria pelo mundo.

Se o History fosse um canal sério, começaria sua campanha assim: No dia 14 de junho de 1928 nascia um porco assassino que foi responsável pela morte de milhares de inocentes apenas para aplacar seu desejo por violência e poder. Mas claro que não se ensina história nesse canal, felizmente ignorado pela ampla maioria (depois reclamam que o povo quer ver futebol e BBB – com um lixo desses fingindo ser aula de história, não dá, né?!). Para quem realmente quiser conhecer melhor Che, o verdadeiro Che, segue um vídeo que gravei sobre o terrorista (e que teve mais audiência do que esse canal patético):

httpv://youtu.be/0LfHxFvqYb4  

Rodrigo Constantino

UM NOVO MODELO DO UNIVERSO de P. D. Ouspensky


Em Um novo modelo do universo, P. D. Ouspensky analisa algumas das escolas mais antigas de pensamento, tanto orientais como ocidentais, e estabelece as ligações dessas escolas com as idéias modernas, explicando-as à luz das mais recentes descobertas e especulações nos domínios da física e da filosofia.

O autor discorre ainda a respeito da relatividade, da quarta dimensão, da simbologia cristã, do tarô, da ioga, dos sonhos, do hipnotismo, do eterno retorno e de várias teorias psicológicas. O livro termina com algumas considerações sobre o problema do sexo de um ponto de vista inteiramente novo: o do sexo em relação à evolução do homem para super-homem.

Ouspensky mostra com clareza por que o conhecimento comum não tem solidez suficiente para levar a efeito essa transformação do homem num novo homem, pois o conhecimento só é conhecimento quando a parte tem relação com o todo.

As idéias contidas neste livro servem para abrir a mente do leitor e inspirá-lo a procurar a companhia dos que se reúnem com vistas a descobrir a verdade — como fez o próprio Ouspensky — e buscar um ensinamento oral numa escola para o desenvolvimento humano, pois não basta ler a respeito dessas idéias e discuti-las — elas têm de ser postas em prática, têm de ser vividas.



Editora Pensamento 

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Psicologia da Evolução Possível ao Homem - Continuação da Primeira Conferência





O que é a consciência? Na linguagem comum, a palavra “consciência” é quase sempre empregada como equivalente da palavra “inteligência”, no sentido de atividade mental. Na realidade, a consciência no homem é uma espécie muito particular de “tomada de conhecimento interior” independente de sua atividade mental – é antes de tudo, tomada de consciência de si mesmo*, conhecimento de quem ele é, de onde está e, a seguir, conhecimento do que sabe, do que não sabe, e assim por diante. Só a própria pessoa é capaz de saber se está consciente ou não em dado momento. 

[Nota: Consciência de si e consciência da consciência neste caso são equivalentes, pois este "si" ao qual temos acesso e tomamos ciência não deve ser confundido com a mente nem com os objetos mentais, nem como uma função da mente, mas sim, este si mesmo é a própria consciência, ainda que em processo de auto-descoberta e auto-conhecimento.]

Certa corrente de pensamento da psicologia européia provou, aliás, há muito tempo, que só o próprio homem pode conhecer certas coisas sobre si mesmo. Só o próprio homem, pois, é capaz de saber se a sua consciência existe ou não, em dado momento. Assim, a presença ou a ausência de consciência no homem não pode ser provada pela observação de seus atos exteriores. Como acabo de dizer, esse fato foi estabelecido há muito, mas nunca se compreendeu realmente sua importância, porque essa idéia sempre esteve ligada a uma compreensão da consciência como atividade ou processo mental. 

O homem pode dar-se conta, por um instante, de que, antes desse mesmo instante, não estava consciente; depois, esquecerá essa experiência e, ainda que a recorde, isso não será a consciência. Será apenas a lembrança de uma forte experiência. Quero, agora, chamar-lhes a atenção para outro fato perdido de vista por todas as escolas modernas de psicologia. É o fato de que a consciência no homem jamais é permanente, seja qual for o modo como é encarada. Ela está presente ou está ausente. Os momentos de consciência mais elevados criam a memória. Os outros momentos, o homem simplesmente os esquece. É justamente isso que lhe dá, mais que qualquer outra coisa, a ilusão de consciência contínua ou de “percepção de si” contínua. Algumas modernas escolas de psicologia negam inteiramente a consciência, negam até a utilidade de tal termo; isso, porém, não passa de paroxismos de incompreensão. Outras escolas, se é possível chamá-las assim, falam de “estados de consciência”, quando se referem a pensamentos, sentimentos, impulsos motores e sensações. Tudo isso tem como base o erro fundamental de se confundir consciência com funções psíquicas. Falaremos disso mais adiante. 

[Nota: da perspectiva humana existem graus de consciência desde a inconsciência até a consciência objetiva, mas, da perspectiva da realidade absoluta, a consciência é invariável, intocável, plena; só que da perspectiva humana normal está plenitude não está acessível a esta devido aos obstáculos, do mesmo modo que cortinas escuras impedem que a luz passe pelas janelas e ilumine uma casa.] 

Na realidade, o pensamento moderno, na maioria dos casos, continua a crer que a consciência não possui graus. A aceitação geral, ainda que tácita, dessa idéia, embora em contradição com numerosas descobertas recentes, tornou impossível muitas observações sobre as variações da consciência. O fato é que a consciência tem graus bem visíveis e observáveis, em todo caso visíveis e observáveis por cada um em si mesmo. 11 

 Primeiro, há o critério da duração: quanto tempo se permaneceu consciente? 

 Segundo, o da freqüência: quantas vezes se tornou consciente? 

 Terceiro, o da amplitude e da penetração: do que se estava consciente? Pois isso pode variar muito com o crescimento interior do homem. 

Se considerarmos apenas os dois primeiros desses três pontos, poderemos compreender a idéia de uma evolução possível da consciência. Essa idéia está liga a um fato essencial, perfeitamente conhecido pelas antigas escolas psicológicas, tais como a dos autores da Philokalia [Filocalia], porém completamente ignorado pela filosofia e pela psicologia européias dos dois ou três últimos séculos. É o fato de que, por meio de esforços especiais e de um estudo especial, a pessoa pode tornar a consciência contínua e controlável. Tentarei explicar como a consciência pode ser estudada. 

[Nota: a seguir é aconselhável que se faça esse experimento]

Tome um relógio e olhe o ponteiro grande, tentando manter a percepção de si mesmo e concentrar-se no pensamento “eu sou Peter Ouspensky”, por exemplo, “eu estou aqui neste momento”. Tente pensar apenas nisso, siga simplesmente o movimento do ponteiro grande, permanecendo consciente de si mesmo, de seu nome, de sua existência e do lugar em que você está. Afaste qualquer outro pensamento. Se for perseverante, poderá fazer isso durante dois minutos. Tal é o limite da sua consciência. E se tentar repetir a experiência logo a seguir, irá achá-la mais difícil que da primeira vez. 

Essa experiência mostra que um homem, em seu estado normal, pode, mediante grande esforço, ser consciente de uma coisa (ele mesmo) no máximo durante dois minutos. A dedução mais importante que se pode tirar dessa experiência, se realizada corretamente, é que o homem não é consciente de si mesmo. Sua ilusão de ser consciente de si mesmo é criada pela memória e pelos processos do pensamento. Por exemplo, um homem vai ao teatro. S ok tem esse hábito, não tem consciência especial de estar ali enquanto está. E, não obstante, pode ver e observar; o espetáculo pode interessá-lo ou aborrecer-lhe; pode lembrar-se do espetáculo, lembrar-se das pessoas com quem se encontrou, e assim por diante. De volta à casa, lembra-se de haver estado no teatro e, naturalmente, pensa ter estado consciente enquanto lá se encontrava. De forma que não tem dúvida alguma quanto à sua consciência e não se dá conta de que sua consciência pode estar totalmente ausente, mesmo quando ele ainda age de modo razoável, pensa e observa. 

[Nota: O paradoxo acima (ou aparente paradoxo) se resolve, em parte, nas páginas seguintes. A contradição entre a produção de alguma memória mesmo estando inconsciente, ou de consciência sem lembrar-se de si, parece nunca ter chamado a atenção de Ouspensky, pois ele visava apenas o lado prático positivo do caso, isto é, o processo intencional retroalimentativo gerado pela atenção e pela recordação de si.]

De maneira geral, o homem pode conhecer quatro estados de consciência, que são: o sono, o estado de vigília, a consciência de si e a consciência objetiva. Mesmo tendo a possibilidade de conhecer esses quatro estados de consciência, o homem só vive, de fato, em dois desses estados: uma parte de sua vida transcorre no sono e a outra, no que se chama “estado de vigília”, embora, na realidade, esse último difira muito pouco do sono. 12 Na vida comum o homem nada sabe da “consciência objetiva” e não pode ter nenhuma experiência dessa ordem. O homem se atribui o terceiro estado de consciência, ou “consciência de si”, e crê possuí-lo, embora, na realidade, só seja consciente de si mesmo por lampejos, aliás, muito raros; e, mesmo nesses momentos, é pouco provável que reconheça esse estado, dado que ignora o que implicaria o fato de realmente possuí-lo. Esses vislumbres de consciência ocorrem em momentos excepcionais, em momentos de perigo, em estados de intensa emoção, em circunstâncias e situações novas e inesperadas; ou também, às vezes, em momentos bem simples onde nada de particular ocorre. Em seu estado ordinário ou “normal”, porém, o homem não tem qualquer controle sobre tais momentos de consciência. Quanto à nossa memória ordinária ou aos nossos momentos de memória, na realidade, nós só nos recordamos de nossos momentos de consciência, embora não saibamos que isso é assim. O que significa a memória no sentido técnico da palavra – todas as diferentes espécies de memória que possuímos – explicá-lo-ei mais adiante. Hoje, só desejo atrair sua atenção para as observações que tenham podido fazer a respeito de sua memória. Notarão que não se recordam das coisas sempre da mesma maneira. Algumas coisas são recordadas de forma muito viva, outras permanecem vagas e existem aquelas de que não se recordam em absoluto. Sabem apenas que aconteceram. Ficarão muito surpresos quando constatarem como se recordam de pouca coisa. E é assim, porque só se recordam dos momentos em que estiveram conscientes. Assim, para voltar a esse terceiro estado de consciência, podemos dizer que o homem tem momentos fortuitos de consciência de si, que deixam viva lembrança das circunstâncias em que eles ocorreram.

[Nota: é que nem toda consciência é consciência de si... E existem também tipos de memória específicos de cada centro.]

O homem, entretanto, não tem nenhum poder sobre tais momentos. Aparecem e desaparecem por si mesmos, sob a ação de condições exteriores, de associações acidentais ou de lembranças de emoções. 

[Nota: eis aqui quase de todo resolvido o aparente paradoxo anterior, visto que esses momentos espontâneos, mesmo que sutis, ou muito curtos, ou de baixo nível ou baixa  qualidade de consciência, é que geram as memórias. Logo, podemos entender como usá-los também na prática para recordar-se de si, e o recordar-se de si para retroalimentar a consciência de si, gerando assim com o tempo um novo hábito (aproveitando-se assim também da mecanucidade dos hábitos). Falta apenas explicar o que entende por memória, lembrança e recordação, como disse, mais adiante, e o processo de tornar-se consciente intensionalmente. Também é necessário notar que, como bem sabemos hoje, existe a memória mecânica e memória gerada pela consciência, que são de tipos diferentes.]

Surge esta pergunta: é possível adquirir o domínio desses momentos fugazes de consciência, evocá-los mais freqüentemente, mantê-los por mais tempo ou, até, torná-los permanentes? Em outros termos, é possível tornar-se consciente? Esse é o ponto essencial e é preciso compreender, desde o início do nosso estudo, que esse ponto escapou completamente, até em teoria, a todas as escolas modernas de psicologia, sem exceção. De fato, por meio de métodos adequados e esforços apropriados, o homem pode adquirir o controle da consciência, pode tornar-se consciente de si mesmo, com tudo o que isso implica. Entretanto, o que isso implica não podemos sequer imaginá-lo em nosso estado atual. Só depois de bem compreendido esse ponto, é possível empreender um estudo sério da psicologia. Esse estudo deve começar pelo exame dos obstáculos à consciência em nós mesmos, porquanto a consciência só pode começar a crescer quando pelo menos alguns desses obstáculos forem afastados. 

[Nota: alguns dos principais obstáculos são (ou provêm do) orgulho, soberba, arrogância e presunção, só para citar um dos níveis.]

Nas conferências seguintes, falarei desses obstáculos. O maior deles é nossa ignorância de nós mesmos e nossa convicção ilusória de nos 13 conhecermos, pelo menos até certo ponto, e de podermos contar conosco mesmos, quando, na realidade, não nos conhecemos em absoluto e de modo algum podemos contar conosco, nem sequer nas menores coisas. Devemos compreender agora que “psicologia” significa verdadeiramente o estudo de si. Esta é a segunda definição de psicologia. Não se pode estudar a psicologia como se estuda a astronomia, quer dizer, fora de si próprio. Ao mesmo tempo, uma pessoa deve estudar-se como estudaria qualquer máquina nova e complicada. É necessário conhecer as peças dessa máquina, suas funções principais, as condições para um trabalho correto, as causas de um trabalho defeituoso e uma porção de outras coisas difíceis de descrever sem uma linguagem especial que, aliás, é indispensável conhecer para ficar em condições de estudar a máquina. A máquina humana tem sete funções diferentes: 

 1ª) O pensamento (ou o intelecto). 

 2ª) O sentimento (ou as emoções). 

 3ª) A função instintiva (todo o trabalho interno do organismo). 

 4ª) A função motora (todo o trabalho externo do organismo, o movimento no espaço, etc.).

 5ª) O sexo (função dos dois princípios, masculino e feminino, em todas as suas manifestações). 

 Além dessas cinco funções, existem duas outras para as quais a linguagem corrente não tem nome e que aparecem somente nos estados superiores de consciência: uma, a função emocional superior, que aparece no estado de consciência de si, e outra, a função intelectual superior, que aparece no estado de consciência objetiva. Como não estamos nesses estados de consciência, não podemos estudar essas funções nem experimentá-las; só conhecemos sua existência de modo indireto, por meio daqueles que passaram por essa experiência. Na antiga literatura religiosa e filosófica de diferentes povos, encontram-se múltiplas alusões aos estados superiores de consciência e às funções superiores de consciência. É tanto mais difícil compreender essas alusões porque não fazemos nenhuma distinção entre os estados superiores de consciência. O que chamamos samadhi, estado de êxtase, iluminação ou, em obras mais recentes, “consciência cósmica”, pode referir-se ora a um, ora a outro – às vezes a experiências de consciência de si, às vezes a experiências de consciência objetiva.

[Nota: Bodhi significa  despertar, mas a palavra samadhi significa apenas um despertar temporário ou num nível incompleto. A palavra correta para o despertar definitivo seria neste caso Sartori.]

E, por estranho que possa parecer, temos mais material para avaliar o mais elevado desses estados, a consciência objetiva, do que para aquilatar o estado intermediário, a consciência de si, embora o primeiro só possa ser alcançado depois desse último. Deve o estudo de si começar pelo estudo das quatro primeiras funções: intelectual, emocional, instintiva e motora. A função sexual só pode ser estudada muito mais tarde, depois de essas quatro funções terem sido suficientemente compreendidas.

[Nota: Hoje sabemos que devemos estudar desde o início , ainda que não enfaticamente, está última, pois se não a observarmos e equilibrá-la na medida do possível desde o começo, ela desequilibrará as outras, colocando a perder boa parte do trabalho.]

Ao contrário do que afirmam certas teorias modernas, a função sexual vem realmente depois das outras, quer dizer, aparece mais tarde na vida, quando as quatro primeiras funções já se tiverem manifestado plenamente: 14 está condicionada por elas. Por conseguinte, o estudo da função sexual será útil, apenas quando as quatro primeiras funções forem conhecidas em todas as suas manifestações. Ao mesmo tempo, é preciso compreender bem que qualquer irregularidade ou anomalia séria na função sexual torna impossível o desenvolvimento de si e, até, o estudo de si. Tratemos, agora, de compreender as quatro primeiras funções. 

O que entendo por “função intelectual” ou “função do pensamento”, suponho que seja claro para vocês. Nela estão compreendidos todos os processos mentais: percepção de impressões, formação de representações e conceitos, raciocínio, comparação, afirmação, negação, formação de palavras, linguagem, imaginação, e assim por diante. 

A segunda função é o sentimento ou as emoções: alegria, tristeza, medo, surpresa, etc. Ainda que estejam seguros de bem compreender como e em que as emoções diferem dos pensamentos, aconselhá-los-ia a rever todas as suas idéias a esse respeito. Confundimos pensamentos e sentimentos em nossas maneiras habituais de ver e de falar. Entretanto, para começar a estudar-se a si mesmo, é necessário estabelecer claramente a diferença entre eles. 

[Nota: O. não  diferencia emoções e sentimentos, nem a origem de cada um desses processos, nem seus centros e atuações. Sabemos hoje que isto é muito importante, por isso é ensinado em nosso sistema logo no início.]

As duas funções seguintes, instintiva e motora, reter-nos-ão por mais tempo, pois nenhum sistema de psicologia comum distingue nem descreve corretamente essas duas funções. As palavras “instinto” e “instintivo” são empregadas geralmente num sentido errôneo e, freqüentemente, sem sentido algum. Em particular, atribui-se ao instinto manifestações exteriores que são, na realidade, de ordem motora e, às vezes, emocional. A função instintiva, no homem, compreende quatro espécies de funções: 

 1ª) Todo o trabalho interno do organismo, toda a fisiologia por assim dizer: a digestão e a assimilação do alimento, a respiração e a circulação do sangue, todo o trabalho dos órgãos internos, a construção de novas células, a eliminação de detritos, o trabalho das glândulas endócrinas, e assim por diante.

 2ª) Os “cinco sentidos”, como são chamados: a visão, a audição, o olfato, o paladar e o tato; e todos os demais, como o sentido de peso, de temperatura, de secura ou de umidade, etc., ou seja, todas as sensações indiferentes, sensações que não são, por si mesmas, nem agradáveis nem desagradáveis. 

 3ª) Todas as emoções físicas, quer dizer, todas as sensações físicas que são agradáveis ou desagradáveis; todas as espécies de dor ou de sensações desagradáveis, por exemplo, um sabor ou um odor desagradável, e todas as espécies de prazer físico, como os sabores e os odores agradáveis, e assim por diante.

 4ª) Todos os reflexos, até os mais complicados, tais como o riso e o bocejo; todas as espécies de memória física, tais como a memória do gosto, do olfato, da dor, que são, na realidade, reflexos internos. A função motora compreende todos os movimentos exteriores, tais como caminhar, escrever, falar, comer, e as lembranças que disso restam. À função motora pertencem também movimentos que a linguagem corrente 15 qualifica de “instintivos”, como o de aparar um objeto que cai, sem pensar nisso. A diferença entre a função instintiva e a função motora é muito clara e fácil de compreender; basta recordar que todas as funções instintivas, sem exceção, são inatas e não é necessário aprendê-las para utilizá-las; ao passo que nenhuma das funções de movimento é inata e é necessário aprendê-las todas; assim, a criança aprende a nadar, aprendemos a escrever ou a desenhar. Além dessas funções motoras normais, existem ainda estranhas funções de movimento, que representam o trabalho inútil da máquina humana, trabalho não previsto pela natureza, mas que ocupa um vasto lugar na vida do homem e consome grande quantidade de sua energia. São: a formação dos sonhos, a imaginação, o devaneio, o falar consigo mesmo, o falar por falar e, de maneira geral, as manifestações incontroladas e incontroláveis.

[Nota: mas é preciso  lembrar que há e pode haver participação de outros centros nessa formação, principalmente emocional e instintivo.]

As quatro funções – intelectual, emocional, instintiva e motora – devem, antes de tudo, ser compreendidas em todas as suas manifestações: depois, é preciso observá-las em si mesmo. Essa observação de si, que deve ser feita a partir de dados corretos, com prévia compreensão dos estados de consciência e das diferentes funções, constitui a base do estudo de si, isto é, o início da psicologia. É muito importante recordar que, enquanto observamos as diferentes funções, cumpre observar ao mesmo tempo sua relação com os diferentes estados de consciência. Tomemos os três estados de consciência – sono, estado de vigília, lampejos de consciência de si – e as quatro funções: pensamento, sentimento, instinto e movimento. Essas quatro funções podem manifestar-se no sono, mas suas manifestações são então desconexas e destituídas de qualquer fundamento. Não podem ser utilizadas de maneira alguma; funcionam automaticamente. No estado de consciência de vigília ou de consciência relativa, elas podem, até certo ponto, servir para nossa orientação. Seus resultados podem ser comparados, verificados, retificados e, embora possam criar numerosas ilusões, só contamos no entanto com elas em nosso estado ordinário e devemos usá-las na medida em que podemos. Se conhecêssemos a quantidade de observações falsas, de falsas teorias, de falsas deduções e conclusões feitas nesse estado, cessaríamos completamente de crer em nós mesmos. Entretanto, os homens não se dão conta de quanto as suas observações e teorias podem ser enganadoras e continuam a crer nelas. E é isso o que impede os homens de observarem os raros momentos em que suas funções se manifestam sob o efeito dos lampejos do terceiro estado de consciência, ou seja, da consciência de si. 

[Nota: ou seja, crer em si, seus poderes, seu controle de tudo e seu auto-controle, suas teorias, seus planos e convicções. Novamente derivados da classe mais forte de obstáculos que vêm da presunção, do orgulho.]

Tudo isso significa que cada uma das quatro funções pode manifestar se em cada um dos três estados de consciência. Os resultados, todavia, diferem inteiramente.. Quando aprendermos a observar esses resultados e a diferença entre eles, compreenderemos a relação correta entre as funções e os estados de consciência. 16 Mas, antes de considerar as diferenças que apresenta uma função segundo o estado de consciência, é preciso compreender que a consciência de um homem e as funções de um homem são dois fenômenos de ordem completamente diferente, de natureza totalmente diferentes, dependentes de causas diferentes, e que um pode existir sem o outro. As funções podem existir sem a consciência e a consciência pode existir sem as funções.


Fim da primeira conferência. Continua com as quatro seguintes...









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