Patrística - conduta e salvação em Clemente de Alexandria - final

 



A Verdade e a Salvação em Cristo

Procurando fazer com que o grande público compreendesse de melhor forma os ensinamentos cristãos, Clemente utiliza uma metodologia bastante simples e repetitiva, para que seus ouvintes o compreendessem – haja vista que o padre alexandrino se dedicou especialmente à catequese. Apesar de seus ensinamentos, o próprio mestre reconhecia que a maioria das pessoas não estava apta ao conhecimento da doutrina de Cristo. Aquele que procura passar conhecimento religioso a outrem (geralmente um padre) deve agir de maneira semelhante a um agricultor, devendo cultivar com esmero em boa terra suas sementes (os fiéis): "Un alma que se une a (otra) alma y un espiritu a (otro) espiritu, cuando se siembra la palavra, hacem crescer la semilla y producem vida; y todo el que es educado viene a ser hijo del educador en virtude de la obediencia". A semente seria, também, símbolo da perseverança que um verdadeiro fiel deve possuir; resistir a tudo, suportar toda forma de agressão estando no estado latente, e germinar quando boas condições forem encontradas.

A salvação da alma não é coisa fácil de se alcançar; pois ela só é possível através de muito esforço e dedicação por obra daqueles que a buscam. "La mies es mucha y los operarios son pocos".

O alexandrino fala em seus escritos da necessidade de se seguir os passos do Senhor, de se levar uma "vida santa", reta em Cristo – é encontrada essa necessidade no Antigo Testamento. E diz Clemente: "Es necessario, pues, imitar en lo possible al Señor". E está na Bíblia: "O povo de Deus deve ter uma vida santa". Aqueles que ensinam às pessoas devem facilitar a sua compreensão, nada mais que isso, pois os fiéis devem aprender a superar suas dificuldades. Consta em Clemente: "Es razonable ayudar a uno a llevar su carga, sin embargo no lo es ayudar a descargarla". Os detentores do conhecimento devem não guardá-los apenas para si, mas torná-los disponíveis ao público; para que este possa realizar a progressão de sua fé: "Quien habla delante de personas y, con tiempo, las somete a examen (...) difere camiño pedregoso del solo fertil". Também aquele que ensina está aprendendo a cada palavra que profere. A Sabedoria é personificada em Deus, logo, conhecendo-a melhor, as pessoas estariam se aproximando mais de Jesus e da salvação.

Na pedagogia clementina, o exercício leva à perfeição e a prática é inimiga do erro. Aqueles que não praticam sua fé perdem-se (eles se atrofiam espiritualmente e se tornam mais aptos aos ataques dos pecadores). Ainda nesse ponto, a tradição oral é valorizada sobre a escrita – é mais segura, uma vez que os perigos da nossa língua são os de permitir várias interpretações; o que é campo fértil para especulações. Quando o assunto é a vida mundana (seu fascínio), Clemente não é tão radical como outros padres da Igreja. Deve-se utilizar a cultura mundana – aquilo que a vida na terra oferece – mas não se pode ficar preso demasiadamente à ela; os atrativos do mundo devem ser usados apenas para o bem. É terrível o fim daqueles que fazem uso do prazer de forma desordenada: "Luego te arrepentirás en la vejez, cuando se consuman las carnes de tu cuerpo. Ese es el fin del placer desordenado".

Os ricos encontram muita dificuldade para entrar no reino dos céus, pelo fato de se ligarem muito aos bens materiais; quando já se dizia nesse cristianismo que "Deus está além do material" . O homem que deseja a salvação de sua alma não deve viver na glória de suas posses ou do seu conhecimento; não se deve ter vaidade. "Que no se glorie el sabio de su sabiduría nen el rico de su riqueza" . Existe a consciência de que: " Muchos, en efecto, hay entre nossotros flacos y débiles y bastantes que están dormidos. Si nos juzgásemos a nossotros mismos, no seríamos condenados".

Por fim, a importância de se levar uma vida simples e a conseqüente dificuldade do ingresso dos ricos na salvação fica clara em: "La caridad es la major ley del amor que Cristo ensino".


Um grande centro cristão:

A Escola de Clemente

Num momento em que a literatura pagã vai sofrendo um período de forte crise, surge a inteligência da Igreja, através, principalmente, dos escritos dos padres. Os dois maiores centros de onde emanavam as idéias cristãs no século III eram o Egito e a África. E dentre os nomes de maior destaque está o de Clemente de Alexandria.

A título de curiosidade, Alexandria era uma cidade imensa – das maiores do mundo no período – aglomeração em constante crescimento, cidade de muitas morais, várias religiões. A inteligência era ali muito estimada e dispunha de inumeráveis instrumentos de trabalho: Museu, Biblioteca, Zoológico e tudo mais. Ali se encontrava um clima excitante para o espírito, uma terra de eleição para todas as tentativas sincretistas, e para todas as heresias. Por volta de 200, Alexandria era o centro do aprendizado cristão e gnóstico; o grande cérebro (o ponto de convergência) do mundo ocidental – era onde tudo fluía muito rapidamente. O capitalismo há muito se instalara nesta cidade.

Como já foi dito, no século II a fama da cidade torna-se ainda maior. Ao lado das escolas dos filósofos, fundara-se uma instituição "análoga à de São Justino em Roma", uma didascália cristã. Essa escola era, ao mesmo tempo, uma universidade e um cenáculo: muitas matérias, poucos alunos e também poucos mestres. Clemente foi o primeiro desses chefes da escola cristã. Alexandria – situada no Egito – tornara-se, no século III, a então capital do Cristianismo e o mestre Clemente seu principal nome.


BIBLIOGRAFIA

ALEXANDRIA, Clemente de. Stromata de notas Gnósticas segundo a Verdadeira Filo. Editorial Ciudad Nueva. Madrid, 1996.
ROPS, Daniel. História da Igreja de Cristo.
Bíblia Sagrada. Editora Ave Maria. São Paulo, 1999. 18 ed.
MAIA, Márcia. Evangelhos Gnósticos. Editora Mercuryo. São Paulo, 1992.
DANIÉLOU, Jean e MARROU, Henri. Nova História da Igreja. Editora Vozes. 2 edição. Petrópolis, 1973.

FONTE:

(Texto publicado no Grupo Ortodoxia)

https://www.ecclesia.org.br/biblioteca/pais_da_igreja/ideais_de_fe_e_conduta_e_salvacao_em_clemente_de_alexandria.html






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