Os Sacramentos na Ortodoxia
Os sacramentos
«Ele que esteve visível como nosso Redentor
agora passou para os Sacramentos.»
(São Leão, o Grande)
O lugar principal na liturgia Ortodoxa pertence aos Sacramentos ou, como eles são chamados em Grego aos mistérios. É chamado de mistério, escreve São João Crisóstomo sobre a eucaristia, pois aquilo em que acreditamos não é o mesmo que nós vemos, mas vemos uma coisa e acreditamos em outra... Quando eu ouso mencionar o corpo de Cristo, eu entendo o que é dito em um sentido o descrente em outro (Homilies on I Corinthians, 7:1 (p.g. 61,55). Este duplo caráter, ao mesmo tempo exterior e interior, é o aspecto distintivo de um Sacramento: Os Sacramentos, como a Igreja, são ambos visíveis e invisíveis; em todo o Sacramento existe a combinação de um Sinal visível no exterior com uma Graça espiritual interior. No batismo o Cristão passa por uma exterior lavada na água, e é só ao mesmo tempo limpo interiormente de seu pecado; na Eucaristia ele recebe o que do ponto de vista visível parece ser pão e vinho, mas na realidade ele come o Corpo e Sangue de Cristo.
Na maioria dos Sacramentos a Igreja usa coisas materiais — água, pão, vinho, óleo e faz delas um veículo do Espírito. Desse modo os sacramentos parecem-se com a encarnação, quando Cristo tomou carne material e fez dela um veículo do Espírito; E eles parecem-se no futuro, ou melhor antecipam, a apocatastasis e a redenção final da matéria no último dia.
A Igreja Ortodoxa costumeiramente fala de sete sacramentos, basicamente os mesmo sete da teologia Católico-Romana:
- Batismo
- Crisma (Equivalente a Confirmação no Ocidente)
- Eucaristia
- Arrependimento ou Confissão
- Santas Ordens
- Sagrado Matrimônio
- Unção dos Enfermos (Correspondente à Extrema Unção na Igreja Católica Romana)
Somente no século dezessete, quando a influência latina estava no auge a lista tornou-se fixa e definida. Antes dessa data os escritores Ortodoxos variavam consideravelmente quanto ao número de sacramentos: São João Damasceno fala de dois, Dinis o Aeropagita de seis; Joasaph, Metropolita de Éfeso (século quinze), de dez; e aqueles teólogos Bizantinos que de fato falam de sete sacramentos diferem quanto aos itens que eles incluem em suas listas.
Ainda hoje o número sete não tem significado absoluto para a teologia Ortodoxa, mas é usado primariamente como uma conveniência para o ensino.
Aqueles que pensam em termos de sete sacramentos devem ser cuidadosos e se resguardar de duas concepções errôneas. Em primeiro lugar, enquanto todos os setes são verdadeiros Sacramentos eles não são de igual importância, mas existe uma certa hierarquia entre eles. A Eucaristia, por exemplo, aparece no coração da vida e experiência Cristã de um modo que a unção de enfermos não aparece. Entre os sete, batismo e eucaristia ocupam uma posição especial: Para usar uma expressão adotada pelo Comitê de Teólogos Romenos e Anglicanos em Bucareste em 1935 esses dois Sacramentos são proeminentes entre os Mistérios Divinos.
Em segundo lugar, quando nós falamos de sete sacramentos, nós nunca devemos isolar esses sete de muitas outras ações da Igreja que também possuem um caráter Sacramental, e que são convenientemente chamados de sacramentais. Incluídos nesses Sacramentais estão os ritos de Profissão Monástica, a Grande Benção das Águas na Epifania, o Serviço de Sepultamento dos mortos, e a Unção de um Monarca. Em todos esses existe uma combinação de sinais visíveis no exterior e graça espiritual interior. A Igreja Ortodoxa também emprega um grande número de bênçãos menores, e essas também são de natureza sacramental: benção de milho, vinho e óleo; de frutas, campos e lares, de qualquer objeto ou elemento. Essas bênçãos menores são freqüentemente muito práticas e prosaicas: há bênçãos para abençoar um carro ou uma locomotiva ou para limpar um lugar de ervas daninhas (A Religião popular da Europa Oriental é litúrgica e ritualística, mas não completamente de outro mundo. Uma Religião que continua a propagar novas formas de amaldiçoar lagartas e remover ratos mortos do fundo do poço dificilmente pode ser rejeitada como puro misticismo (G. Every, The Byzantining Patriarchate, 1ª edição, P. 198)). Entre o mais abrangente e o mais estreito sentido do termo ‘sacramento’ não existe uma divisão rígida: a completa vida Cristã deve ser vista como uma unidade, como um único mistério ou um grande sacramento, cujos diferentes aspectos são expressões em uma grande variedade de atos, alguns acontecidos de uma só vez na vida de um homem, outros talvez diariamente.
Os sacramentos são pessoais: eles são os meios pelos quais a Graça de Deus é apropriada para cada Cristão individualmente. Por essa razão na maioria dos sacramentos da Igreja Ortodoxa o padre menciona o nome Cristão de cada pessoa, enquanto administra o sacramento. Quando dando a Santa Comunhão, ele diz: "O servo (a) de Deus... (Nome) comunga o corpo e o sangue...; na unção dos enfermos, ele diz: "Ó Pai, cura o teu servo... (Nome) das doenças tanto do corpo quanto da alma.
7.1 - O Batismo
Na Igreja Ortodoxa hoje, como na Igreja dos primeiros séculos, os três sacramentos da iniciação Cristã — Batismo, Crisma, Primeira Comunhão — são ligados. Um Ortodoxo que torna-se um membro de Cristo é admitido aos privilégios completos de tal sociedade.
Crianças Ortodoxas não são só batizadas na infância, mas confirmadas na infância, e recebem comunhão na infância...."deixai vir a mim os pequeninos e não o impeçais; porque deles é o Reino dos Céus" (Mt. 19:14).
Existem dois elementos essenciais no ato do Batismo: A invocação do nome da trindade, e a tripla emersão em água. O padre diz: o servo de Deus... (Nome) é batizado em nome do Pai, amém. E do Filho, amém. E do Espírito Santo, amém. Quando o nome de cada pessoa da Trindade é mencionado, o padre mergulha a criança na fonte ou enfiando-a inteiramente sob a água, ou de qualquer forma derramando água sobre o corpo completo. Se a pessoa a ser batizada esta tão doente que a imersão colocaria em risco a sua vida, então é suficiente derramar água sobre sua fronte; mas de outra forma a imersão não deve ser omitida.
Os Ortodoxos estão muito aflitos pelo fato que o Cristianismo Ocidental, abandonando a antiga prática do Batismo por imersão, está agora satisfeito em meramente derramar um pouco de água sobre a cabeça do candidato. A Ortodoxia vê a imersão como essencial (exceto em emergências), pois se não há imersão, a correspondência entre o sinal exterior e o significado interior está perdido, e o simbolismo no sacramento é destruído. O Batismo significa um enterro místico e uma mística ressurreição com Cristo (Ro 6:4-5 e Col 2:12); e o sinal exterior desse sacramento é o mergulho do candidato na fonte, seguido por sua emergência da água. O simbolismo sacramental portanto requer que o candidato seja imerso ou "enterrado" nas águas do Batismo, e então "ressuscitado" das águas mais uma vez.
Através do Batismo nos recebemos um perdão completo de nossos pecados, sejam o original ou os presentes; nós "nos pomos em Cristo," tornando-nos membros de seu Corpo, a Igreja. Para lembrarem-se de seus Batismos, os Cristãos ortodoxos usam normalmente por toda a vida uma pequena Cruz, pendurada no pescoço por uma corrente.
O Batismo deve ser normalmente executado por um bispo ou padre: Em casos de emergência, pode ser feito por um diácono, ou por qualquer homem ou mulher, desde que sejam Cristãos Ortodoxos. Mas enquanto os teólogos Católico-Romanos sustentam que se necessário até um não-Cristão pode administrar o Batismo, a Ortodoxia sustenta que isso não é possível. A pessoa que batiza deve ela própria ter sido batizada.
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