2° A Prática da Presença de Deus - parte 2

Do livro  A Prática da Presença de Deus  Por Irmão Lourenço (Nicholas Herman)

 II Conversação

Irmão Lourenço me disse que ele sempre era regulado pelo amor, sem atitudes egoístas. E desde que decidiu fazer pelo amor de Deus o fim de todas as suas ações, tinha encontrado motivos para estar muito satisfeito com seu método. Também estava satisfeito quando podia levantar uma folha seca do solo por amor a Deus, procurando apenas a Ele, e nada mais que Ele, nem sequer buscar os seus favores. Durante muito tempo esteve mentalmente angustiado por acreditar que seria condenado. Nem todos os homens do mundo poderiam tê-lo persuadido do contrário. Finalmente raciocinou consigo mesmo desta maneira: não estou envolvido na vida religiosa exceto por amor a Deus, e tenho me esforçado para fazer para Ele tudo que faço. Qualquer que seja a minha situação, quer esteja perdido ou salvo, continuarei sempre a trabalhar exclusivamente por amor a Deus. Pelo menos vou ter este direito, que até a morte terei feito todo o possível para amá-Lo. 

Durante quatro anos tinha ficado com esta angústia mental; e durante este tempo tinha sofrido muito. No entanto, desde aquele tempo havia vivido em uma liberdade perfeita e contínua alegria. Colocou seus pecados diante de Deus, tal como eram, para dizer que não merecia seus favores, mas sabia que Deus iria continuar outorgando seus favores abundantemente. Irmão Lourenço disse que, a fim de formar o hábito de conversar com Deus continuamente e de lhe mencionar tudo o que fazemos, a princípio temos de dedicar-nos a Ele com algum esforço: mas depois de um pequeno período, deveríamos encontrar que o seu amor nos move a fazê-lo internamente, sem qualquer dificuldade. Ele esperava que, depois dos dias agradáveis que Deus concedeu-lhe, teria um tempo de dor e sofrimento. Embora ele não estivesse preocupado com isso, sabendo muito bem que ele não podia fazer nada por si mesmo, Deus não deixaria de dar-lhe forças para enfrentar. 

Quando surgia a oportunidade de praticar uma obra bondosa, se dirigida a Deus, dizendo: "Senhor, eu não posso fazer isso a menos que me capacites." E então recebia forças mais do que suficientes. Quando havia falhado no seu dever, apenas confessava sua falta, dizendo para Deus: "Eu nunca poderia fazer diferente se me deixares entregue as minhas próprias forças. É você quem deve impedir a minha queda, e corrigir o que está errado." Após a confissão, já não sentia qualquer preocupação com o que foi feito. 

Irmão Lourenço dizia que com relação a Deus, temos de agir com a maior simplicidade, falando com Ele franca e claramente, e implorando sua ajuda em todos os nossos assuntos. Deus nunca havia falhado em conceder-lhe seu auxílio, e Irmão Lourenço o tinha experimentado com freqüência. Ele disse que tinha sido enviado recentemente para Borgonha, para comprar a provisão de vinho para a comunidade. Esta tarefa lhe resultava muito pouco grata, porque ele não tinha qualquer inclinação para o negócio, e porque era coxo e não poderia lidar com o seu trabalho no barco, a não ser rodando sobre os barris. No entanto se entregou a essa tarefa e à compra do vinho, sem qualquer descontentamento. Ele disse que Deus se ocupou desse negócio, e o fez muito bem. Ele mencionou que no ano anterior tinha sido enviado para Auvergne com a mesma missão, e embora não pudesse dizer como, tudo tinha resultado muito bem. Da mesma forma cumpria com seu trabalho na cozinha (a qual por natureza tinha uma grande aversão), onde tinha se acostumado a fazer tudo por amor a Deus. Durante os quinze anos que havia trabalhado na cozinha, tudo tinha sido fácil, porque o fez com a oração e movido pela graça de Deus. Estava muito satisfeito com a posição que ocupavam agora, mas que estava pronto para voltar a anterior, devido à sempre estar agradando a Deus em qualquer condição, fazendo as coisas pequenas por amor a Ele. 

Para o Irmão Lourenço os momentos de oração, não eram diferentes dos que haviam sido no passado. Retirava-se para orar, de acordo com as diretrizes do seu superior, mas não queria esse tipo de retiro nem os solicitava, porque nem o maior trabalho lhe distraía da presença de Deus. Porque conhecia sua obrigação de amar Deus em todas as coisas; como ele havia se esforçado para fazê-lo assim, não necessitava que um diretor espiritual lhe desse uma ordem, mas sim, que necessitava de um confessor para lhe absolver dos pecados. Ele disse que era muito sensível com suas faltas, elas não o desanimavam. As confessava a Deus, sem dar nenhuma desculpa. Quando o fazia, com toda a paz, restabelecia a sua habitual prática de amor e de adoração. Irmão Lourenço não consultava ninguém sobre suas inquietudes mentais. Pela luz que lhe dava a fé, ele sabia que Deus estava presente, então lutava consigo mesmo tratando de dirigir todas as suas ações para Ele. Tudo o fazia movido pelo desejo de agradar a Deus, aceitando os resultados que se produziam. 

Ele disse que os pensamentos inúteis arruínam tudo, que as dores começam aí. Assim que percebemos a sua impertinência devemos rejeitá-los e voltar à nossa comunhão com Deus. No começo, freqüentemente havia gasto o seu tempo de oração rejeitando pensamentos erráticos e voltando a cair neles. Nunca tinha regulado sua devoção por certos métodos como o fazem alguns. No entanto, inicialmente, tinha praticado meditação durante um tempo, mas depois havia deixado de lado de uma maneira quase inexplicável. Irmão Lourenço enfatizava que todas as mortificações corporais e outros exercícios eram inúteis, a menos que servissem para unir-se com Deus através do amor. Havia considerado bem isto. Constatou que o caminho mais curto para ir diretamente a Deus era exercitando o amor continuamente através de um exercício contínuo de amor, e fazendo todas as coisas por amor a Ele. 

Ele notou que havia uma grande diferença entre os atos do intelecto e os da vontade. Os atos do intelecto eram comparativamente de pouco valor. Os atos da vontade eram todos importantes. Nosso único dever é o de amar Deus e deleitar-nos n’Ele. Nenhum tipo de mortificação pode excluir um único pecado, se invalida o amor de Deus. Em vez disso, e sem nenhuma ansiedade, devemos esperar o perdão de nossos pecados que provem do sangue de Jesus Cristo, apenas esforçando-se para amá-lo com todo o nosso coração. Ele observou que Deus parecia ter concedido os maiores favores aos maiores pecadores, como se fossem monumentos comemorativos de sua misericórdia.

Irmão Lourenço disse que as maiores dores ou prazeres deste mundo não podiam ser comparados com aqueles que ele havia experimentado nesse estado espiritual. Como resultado de tudo isto, só desejava uma coisa: não ofender a Deus. Ele disse que não carregava nenhuma culpa. Quando falho nos meus deveres, reconheço rapidamente, dizendo: "Estou habituado a fazê-lo assim. Nunca poderei mudar por mim mesmo. E se não falho, então dou graças a Deus, reconhecendo que isto vem de Deus”.

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